segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ROBIN HOOD À ESPANHOLA: Espanhóis promovem saques à mercados para darem aos pobres

MADRI - Um sindicato de trabalhadores espanhóis promoveu saques em dois supermercados de uma das regiões mais pobres da Espanha, em sinal de descontentamento crescente com o aprofundamento da crise econômica e as medidas de austeridade adotadas pelo governo conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy.
Na terça-feira, centenas de trabalhadores ligados ao Sindicato dos Trabalhadores da Andaluzia (SAT) saquearam um supermercado em Écija, na região de Sevilha, levando pelo menos dez carrinhos cheios de leite, macarrão, feijão e outros alimentos; na quarta-feira, um supermercado em Arcos de la Frontera, perto de Cádiz, forçaram um supermercado a doar uma quantidade similar de alimentos. Os produtos foram distribuídos para "bancos de alimentos" da região, que fornecem comida de graça para trabalhadores desempregados.
Uma associação de supermercados e atacadistas espanhóis divulgou comunicado condenando "os injustificáveis atos de violência" e disse que o setor baixou seus preços para mostrar "solidariedade" com a população. A polícia prendeu dois participantes dos saques, um deles em Málaga e outro em Hornachuelos, perto de Córdoba; ambos foram indiciados por roubo e liberados.
Em Madri, Alfonso Alonso, porta-voz parlamentar do Partido Popular, do primeiro-ministro Rajoy, disse que os saques prejudicam a imagem da Espanha no exterior. "Agora é tempo de agir com lealdade e apoio ao governo. Nossa solvência e nossa seriedade estão sendo julgadas", afirmou Alonso.
"Este foi um ato de desespero, em nome de famílias que estão diante de situações desesperadoras. O governo está obrigando as pessoas mais necessitadas, gente que tem dificuldade para fazer o dinheiro durar até o fim do mês, pagar pela crise, ao mesmo tempo que dá carta branca para os banqueiros e alguns políticos", afirmou o líder sindical José Caballero, do SAT, que participou dos saques.
Líderes dos maiores sindicatos da Espanha lamentaram os incidentes, mas integrantes do SAT disseram que vão promover mais "expropriações" de alimentos, para chamar a atenção para o impacto que uma taxa de desemprego de quase 34% está tendo na Andaluzia, a mais populosa das regiões autônomas da Espanha. O SAT reivindica um programa de renda mínima para pelo menos um integrante de cada família.
Embora sejam até o momento uma anomalia, os saques mostram um descontentamento crescente com o governo Rajoy, que está implementando o programa de austeridade mais severo da história da Espanha. O governo pretende implementar cortes de gastos e aumentos de impostos de mais de 100 bilhões de euros nos próximos dois anos, que incluem reduções nos salários dos servidores públicos e dos repasses do governo central ás regiões e cortes nos benefícios da seguridade social.
Funcionários públicos, estudantes, desempregados e trabalhadores de diversos setores têm feito manifestações de rua quase diárias em Madri e em outras cidades espanholas. Em agências bancárias de todo o país, estão proliferando os protestos por parte de clientes temerosos de que os bancos, sob pressão da União Europeia, deixem de fazer pagamentos relativos aos títulos de sua dívida, que muitos espanhóis têm como poupança, por serem vistos como um investimento seguro.
As taxas de aprovação ao Partido Popular caíram substancialmente desde a eleição, em novembro do ano passado, e as centrais sindicais estão fazendo campanha pela convocação de um referendo sobre o programa de austeridade; elas também estão preparando uma greve geral para algum momento do segundo semestre.
"Muitas coisas apontam para um outono difícil para o governo. É difícil governar um país com a opinião pública contra", afirmou José Félix Tezanos, diretor do instituto de pesquisas Fundación Sistema.
Em Espera, uma das cidades que receberam os alimentos dos supermercados saqueados, o prefeito Pedro Romero disse que a redução dos repasses de recursos do governo central estão obrigando sua administração a tomar decisões difíceis. Segundo ele, a taxa de desemprego em espera já superou os 50% e a cidade suspendeu os contratos temporários que pagavam cerca de 500 euros por duas semanas de trabalho a moradores em dificuldades.
Carmen Álvarez, 63, que atua como voluntária em um "banco de alimentos" local há 40 anos, disse que a demanda pelas cestas básicas doadas tem sido a maior que ela já viu e que às vezes faltam alimentos básicos como leite e açúcar. "A Espanha era um país rico. Como nós decaímos... Às vezes, minha depressão é tanta que não consigo fazer nada, porque me sinto impotente", afirmou Álvarez. As informações são da Dow Jones.




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